A proposta de concessão do título de Doutora Honoris Causa à Lucelina Gomes dos Santos – a Dona Juscelina do Quilombo Dona Juscelina – foi apreciada e votada por unanimidade pelo Conselho Superior (Consuni) da Universidade Federal do Tocantins (UFT), na última reunião realizada na tarde do dia 24 de fevereiro.
O título de Doutor Honoris Causa é atribuído a personalidade que tenha se distinguido pelo saber ou pela atuação em prol das artes, das ciências, da filosofia, das letras ou por sua boa reputação, virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou instituições.
Para o reitor da UFT, professor Luís Eduardo Bovolato, com a concessão do título, “a UFT acena para a sociedade que valoriza os saberes tradicionais das comunidades quilombolas e, assim, demostra o seu reconhecimento, concedendo sua honraria máxima à Dona Juscelina, uma mulher que é referência e liderança na região”, ressaltou.
A iniciativa partiu dos colegiados do Curso de História e do Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura e Território (PPGCult) do Câmpus de Araguaína, que fizeram a indicação, e da Direção do Câmpus de Araguaína, que instituiu Comissão para elaboração de processo de concessão de Doutorado Honoris Causa.
Para a professora do curso de Geografia e do PPGCult, Câmpus de Araguaina, Kênia Gonçalves Costa, a importância desse título se dá, no contexto do centro norte tocantinense, por conta da liderança e saber histórico de Dona Juscelina na região, que vem influenciando direta e indiretamente, não só a comunidade quilombola Dona Juscelina, mas também às comunidades do entorno. “Ela, uma senhora de 91 anos, que a partir da sua devoção e dos seus saberes e trajetória de vida, vem proporcionando conhecimento para diversas gerações. A partir do seu exemplo de mulher, romeira, liderança, matriarca vem desenvolvendo e apoiando as demais comunidades”, pontuou.
De acordo com a pró-reitora de Extensão, Cultura e Assuntos Comunitários, professora Maria Santana, que foi relatora do processo, para a universidade e tendo a extensão à frente desse processo, “trabalhar com os indivíduos das comunidades tradicionais é um momento de interlocução, de diálogo, que nós já estamos fazendo entre o saber tradicional e o saber cientifico”. Santana ressalta que o fato de concessão do título, a partir das ações da extensão universitária, significa que a UFT está fazendo uma ponte entre a universidade, entre o saber científico e o saber tradicional das comunidades. “Para mim, como mulher negra, Dona Juscelina me representa, representa toda minha ancestralidade e representa todas as mulheres negras do passado e do presente, que fazem história neste país, como mulheres guerreiras que representam a liberdade”, enfatizou.
Dona Juscelina vive na comunidade quilombola que leva seu nome. Está localizada no Município de Muricilândia – TO, com acesso pela rodovia TO-222 no sentido leste a oeste no portal da Amazônia Legal. Confira aqui artigo acadêmico publicado no periódico online “Participativa: Ciência Aberta em Revista” sobre a trajetória da Dona Juscelina.
Dentre a justificativa para sua indicação, consta no dossiê o notório saber e protagonismo de Lucelina Gomes dos Santos, a Dona Juscelina, do Quilombo Dona Juscelina, no “melhor entendimento entre os povos” na região norte do Tocantins, o que está manifesto na liderança no processo de organização política interna e fortalecimento da identidade de sua comunidade, no auxílio às comunidades vizinhas como Cocalândia e Dona Eva, em processo de reconhecimento, em sua organização e reconhecimento como quilombolas, no diálogo constante e de alto nível com a Universidade, na participação e incentivo ao combate ao trabalho escravo contemporâneo, na defesa dos territórios quilombolas e, por fim, na ativa participação na formação de estudantes universitários de Araguaína e região, especialmente da UFT/Unidade Cimba do Campus de Araguaína, nos temas de seu domínio
Dona Juscelina
Dona Juscelina, nascida em 24/10/1930, na cidade de Nova Iorque no Maranhão, é neta de uma cativa. Benzedeira, devota e romeira de Padre Cícero, do Divino Espírito Santo, também é lavradora, parteira, quebradeira de coco e griô, presidindo o Conselho de Griots da Comunidade desde a fundação. Ser griô é ter a missão de repassar os saberes e história para os mais jovens e, assim, propiciar também os conhecimentos dos ancestrais, além de ensinar como é a organização da comunidade e sua historicidade.
Ela também é portadora do Título de Cidadã Muricilandense, título concedido pela Câmara Municipal de Muricilândia, no ano de 2012, pelos relevantes serviços prestados à Cidade de Muricilândia na construção de uma comunidade negra quilombola, resgatando e incentivando a cultura e os direitos desta comunidade.
No ano de 2016, como reconhecimento por sua importância na luta em defesa dos direitos da comunidade quilombola, recebeu o Prêmio Boas Práticas em Direitos Humanos – Categoria VIII – Igualdade Racial, concedido pela Secretaria de Cidadania e Justiça – Seciju do Estado do Tocantins.
Comissão
Integraram a Comissão que produziu o dossiê da proposta do título Doutora Honoris Causa: Izarete de Oliveira, Dernival Venâncio Ramos Júnior, Olivia Macedo Miranda de Medeiros, Kênia Gonçalves Costa, Vinicius Gomes Aguiar e Manoel Filho Borges. (Poliana Macedo)